"Barulho" em Barrancos é coisa do passado

O "barulho" da polémica sobre os touros de morte pertence ao passado. Em Barrancos, com as lides legais há 10 anos, agitação só na construção dos "tabuados", com a certeza de que ninguém pode "roubar" as tradicionais touradas.
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"Isto aqui está 'blindado'. Podem fazer as tentativas que quiserem, vão encontrar aqui uma barreira intransponível, a comunidade de Barrancos. Nada nos verga", garante à Agência Lusa o autarca António Tereno.

O presidente do município de Barrancos, concelho alentejano a "dois passos" de Espanha, recorda bem os anos da polémica em torno das touradas com touros de morte.

Uma tradição bem pagã, mas que era cumprida de forma "religiosa" na vila à revelia da lei e está intrinsecamente ligada, sempre clamou a população, às festas anuais em honra de Nossa Senhora da Conceição.

"Sem touros de morte não há festa em Barrancos. Todo o barranquenho, se lhe perguntarem se não vai haver tourada, então, não vale a pena fazer a festa", diz, com convicção, José Gavino Garcia, de 62 anos, nascido e criado na vila.

Sempre com data certa nos últimos quatro dias de agosto, as festas, por incluírem touradas com a morte dos touros na arena, geraram contestação, sobretudo de associações de defesa dos animais, e atraíram muitos milhares de visitantes, no final da década de 90 e até 2001.

Nesses anos, recorda António Tereno, Barrancos enfrentou "mais de 100 processos judiciais", mas acabou por ganhá-los "todos" porque tinha "a razão" do seu "lado", Além disso, as lides acabaram sempre com o desfecho anunciado.

Após décadas a "saltar" a fronteira da lei, o parlamento aprovou, em 2002, um regime de exceção para Barrancos que legalizou esta tradição. É, aliás, "a única terra onde existem touros de morte em Portugal", enfatiza José Gavino Garcia.

A "fêra", como lhe chamam no concelho, saiu da ribalta e retomou "o espírito mais familiar" que os locais apreciam. A edição deste ano arranca na terça-feira, prolongando-se até sexta-feira, e os "tabuados", o improvisado "palco" para os touros na Praça da Liberdade, estão quase prontos.

"Esperamos ter mais visitantes do que no ano passado, porque apanha a sexta-feira", vaticina António Lérias, da comissão de festas, lembrando-se que, há 11 ou 12 anos, tudo era feito "às escondidas da Guarda" e era "quase impossível andar nas ruas", por entre "muita cara estranha".

Ciente de que já não há as enchentes de outros tempos, e ao mesmo tempo satisfeito, António Lérias saúda os 10 anos passados da legalização das lides. Mas, realça, "quem gosta da festa de Barrancos, vem sempre, não é por estar ou não legal".

Quem marca sempre presença, não só nas touradas, mas também nos espetáculos musicais, onde atuam alunos seus, é a espanhola Ana Castilla, professora de "baile flamenco" na vila.

"Há muita 'afición' e influência de Espanha", diz. E, com os bilhetes para as touradas já na mão, a espanhola até confessa que vive as festas de Barrancos "mais intensamente" do que as da sua própria terra, Cortegana, na zona de Aracena (Huelva).

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